domingo, 1 de fevereiro de 2009

Pra não dizer que não falei das flores

Essa semana que acabou rolou uma série de coincidências que fez com que esse post saísse essa hora, com esse tamanho e cheio dessas coisas e questões que involuntariamente eu acabei por despertar. Terça-feira Well convidou-me para assistir a estreia do alemão “O complexo de Baader Meinhof” de Uli Edel. Passado nos anos 70 e narrando a historia de um grupo de jovens que lutavam de forma agressiva pelo bloqueio ao já desenfreado imperialismo americano, baseado nos atentados terroristas acontecidos em Berlim e até ao fatídico acontecimento das olimpíadas de 72 em Munique, na sala de exibição eu e Well ainda brincamos com uma cena que fez lembrar uma cena a mini-série “Anos rebeldes” de Gilberto braga e Direcção de Denis Carvalho e uma outra o filme “O que é isso companheiro?” de Bruno Barreto inspirado no livro de Fernando Gabeira. Anos rebeldes falava do golpe militar sofrido pelo Brasil em 31 de Março de 1964 dando inicio aos anos de chumbo que foi a ditadura militar e “O que é isso companheiro?” narrava a história do sequestro vivido pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil Charles Burke Elbrick em Setembro de 1969 por dois grupos que lutavam contra a ditadura militar. Ao sair do cinema ainda com aquele gosto político na boca acabei por lembrar de uma outra mini-série brasileira dessa vez uma produção mais recente (2008) tratava-se de “Queridos Amigos” de Maria Adelaide Amaral e Direcção de Denise Saraceni. Eu havia visto a meses atrás o primeiro episódio mal e porcamente no youtube e havia gostado porem a falta de qualidade e paciência que os vídeos no youtube exigem me fez abortar a ideia. Porem depois do filme acabei por me deixar levar pela curiosidade e até sábado a noite devorei os 24 capítulos, dessa vez a história que também é baseada em factos reais vividos Por Maria Adelaide e seus amigos entre torturados e exilados que se encontram em Dezembro de 1989 e através desse reencontro acabam por relembrar e trazer a tona sentimentos do passado. Uma delícia de serie, actores fabulosos encabeçados por Fernanda Montenegro e uma trilha sonora que mais parecia meu MP3 (Só na voz da Elis tem umas 7 musicas), eu não sei o que mais me prendeu nesta produção se o facto da mesma tratar de assuntos como a ausência do amor, a saudade, as frustrações, as relações mal vividas e os fantasmas do passado ou por ter esse conteúdo histórico fantástico que temos que dar o braço a torcer está impecavelmente reproduzido nos mínimos detalhes pelo inconfundível padrão globo de qualidade.

Eu gostaria muito de ter vivido nessa época, a juventude era mais activa e hoje nem rebelde sem causa existe. Descobri o quanto sou influenciado pela época dos anos de chumbo. A música que eu ouço hoje vem desse tempo, a minha maior referência teatral brasileira é Nelson Rodrigues e Cacilda Becker que naquele tempo sofreram o peso da censura em suas obras. Todo mundo sabe que Chico Buarque de Holanda é o grande amor da minha vida a seguir vem Cazuza que representa a geração dos anos 80 apelidada pelo também contemporâneo dessa época Renato Russo de “Geração Coca-Cola”, o Cazuza tem tanta influencia nas minhas coisas que o nome desse blogue é uma frase dele assim como todo texto de teatro meu também tem uma frase dele.

Eu passei o dia hoje a tentar entender onde foi que essa geração deixou os ideais daquele tempo e não só, o sentido de sociedade e o pensamento colectivo sumiu. A humanidade chegou a um ponto que é tanto problema social, é tanto descaso e ignorância que já não vale a pena acompanhar a politica, a TV manipula a informação, os governantes são verdadeiras personagens canastronas cada vez mais distantes de cumprirem seus verdadeiros papéis e o povo cada vez mais cegos, surdos, mudos e debilmentais em seus sofás cobertos com a manta da ignorância e com as bocas escancaradas cheias de dentes esperando a solução chegar e as crianças cada dia menos crianças e cada vez mais precoces no sexo, no consumismo e na futilidade. Eu já sou de um tempo que poucas coisas eram um caminho para esperança ou lá como se chama essa necessidade de justiça social. Me arrependo de olhar para trás e lembrar apenas de uma manifestação pela reforma de um teatro em Recife em cima de uma andas (perna-de-pau), com o microfone na mão a gritar as palavras de ordem contra meu primo então prefeito da cidade, meu trabalho nas favelas através do Unicef e do teatro, a apresentação da Parada gay 2003 de Recife não pelo movimento gay (cada vez mais distante de um ideal político) porem mais por influencia do Movimento Feminista de Pernambuco que através do Unicef eram minha “patroas” e o facto de ser o único da minha família a votar em candidatos do PT e não no hereditário PFL começando nos meus Avós e terminando na empregas. Eu falo serio quando digo que me preocupa a fome que as pessoas passam contudo ao mesmo tempo sou hipócrita quando me vejo tão de mãos atadas para o que diz respeito ao meu papel na sociedade.

Fui ao cinema já no fim do domingo ver o filme novo de Gus Van Sant, “Milke” onde Sean Penn vive o primeiro homossexual a ocupar um cargo público nos Estados Unidos. A vida as vezes nos conduz a uma serie de acontecimentos que faz você se questionar por vários motivos. A nossa necessidade de morar e comer multas vezes nos afastam até daquilo que gostamos de fazer mas fazer algo pela sociedade usando como instrumento aquilo que você sabe fazer deve ser algo que peço a Deus um dia poder.


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