terça-feira, 26 de maio de 2009

Visão apocalíptica

Na cozinha do Zeno o nepalês que trabalha na copa deixa cair uma pilha de tábuas e o rapaz das saladas que já é famoso pelos erros de português (tipo: Cê quer judiar de nóis) me sai com essa:

Ó Praí! parece o corcunda de Nostradamus.

Tive uma crise de riso de 5 minutos.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Comédia da vida privada

Sexta-feira saio eu do trabalho e vou sozinho ao Tejo bar em Alfama a fim de pegar um texto de teatro com Mané do Café o dono do buteco que havia o encontrado um dia antes no cinema São Jorge. Gosto do clima do estabelecimento, grande parte dos artistas brasileiros aqui de Lisboa depois de tocarem e cantarem pelas rodas de choro, teatros e espaços da cidade migram para tomar a saideira e tocar umas quantas musicas pra quem quiser ouvir ou soltar a voz nas letras de Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Ary Barroso, Chico e tantos outros.

Depois de três ou quatro cervejas (ultimamente estou imune ao teor alcoólico dela) saio pra fumar um cigarro e na porta vejo um sujeito que fisicamente era meu número, Magro, alto, óculos, cara de bibliotecário, um nariz de deixar Maria Bethania sem fôlego, um charme interessante e um cheiro que me deixou com as antenas ligadas mas isso tudo no curto espaço de 5 segundos, o tempo de ascender o cigarro e baixar a cabeça.

Ao voltar para minha mesa percebi que alguém me olhava, cruzamos pela primeira vez o olhar, mais outro e outra cerveja, mais três cervejas e outros olhares, olhares seguidos de sorriso. Eu já desconcertado pego um livro para fingir que leio (Gota d’água) ao voltar a fecha-lo ele me pede o livro, depois devolve, eu no meu momento Amelie procuro um trecho da peça que se identifique com o momento, fui rápido e dei pra ele ler (isso num bar lotado com umas quatro mesas de distancia) sorriu cheio de malícia no fim da leitura, mais olhar e um músico no bandolim puxa “pela luz dos olhos teus” (tem até um vídeo no youtube, procurem a conta do Tejo bar, foi adicionado no sábado), cantamos quase toda a olhar um pro outro.

No balcão puxei conversa com a amiga e depois trocamos umas palavras. Eu por estar mais perto dos músicos, a amiga pede uma musica, depois o pergunto o que ele que ouvir: “O mundo é um Moinho” disse. Cantei como se tivesse em baixo de uma janela aquela hora mesmo da madrugada.

Me chamaram para mesa, mal sentei, começaram a cantar o tango que fecha a noite do bar. Embaraço, todo mundo começou a pagar a conta.

Eu cumprimento, digo que foi um prazer e vou pra casa, só com o nome, sem telefone e sem a certeza se voltarei a ver.

No sábado voltei lá na esperança que talvez tivesse pensado o mesmo, ledo engano. Ninguém apareceu e eu passei a noite olhado pra cada movimento da porta. Mais uma vez ouvi o tango pra fechar. 

terça-feira, 19 de maio de 2009

48 horas


Daqui a dois dias provavelmente fecho um ciclo de 5 anos
tenho esgotado as pernas mais de 10 horas em pé
a uma semana a acordar as seis ou sete a tentar resolver

Sentindo-me só e desnorteado
chorando as vezes baixinho e no escuro
por falta de coragem de desabafar
sem querer incomodar ninguém

Um pouco esperançoso que no final dê certo
como nos filmes que assistimos
Que no final eu consiga pelo que lutei
ou que seja o que tenha de ser

Se caso quinta-feira alguém encontrar-me 
e se eu tiver com um sorriso nos dentes
é sinal que a festa vá começar
e se preparem para o que vem pela frente


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Quantos "V"?

O Renato estava a concordar comigo quando eu defendia à uma terceira pessoa a teoria que eu morria de medo era das bichas que se dizem do bem, aquelas que odeiam injustiça, que acham tudo lindo e são inocentes até quando estão a ser explicitamente má com elas.
A terceira pessoa que tem todas essas características falou com um doce na fala e uma paz no olhar que não entendia minha posição sendo eu tão meigo, eu tremendo de medo com tamanha bondade dele disse que eu de longe sou o oposto disso e que tenho mais segurança em lidar com um certo tipo de bicha e nesse momento eu mesmo me saio com essa:

"Bicha pra mim tem que ser vingativa, violenta e venenosa senão não é bicha! E sem falar nas vagabundas e viciadas"

Eu quero que quem conheça uma Santa no meio de nós que me atire a primeira sauna.

 

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Olha a veia que salta


Ontem fui a estreia em Lisboa de Gota D’agua do Chico. É difícil pensar em alguém substituir Bibi ferreira no papel de Joana e montar de forma tão boa ou parecida como a montagem de 1975 mas era Chico, em um texto que adoro de paixão. Dificilmente um espectáculo surtiu um efeito diferente em mim senão o de crítico afiado e ranziza. Ontem eu tive que engoli mais uma vez essa pretensão boba de quem muito fala e pouquíssimo faz. Essa é a montagem! Guardem o nome dessa Actriz: Izabella Bocalho. 



É de arrepiar a interpretação dessa menina, um monstro em cena, a voz dela retinia no CCB a cada nota que ela subia. Tirando a música “atrás da porta” que continua sendo Elis a melhor interprete, todas as outras ficam na minha mente como sendo as de Izabella a melhor versão. Acho que “bem-querer”, “flor da pele” e “gota d’agua” são as melhores, essa ultima deixa a versão da Bethania no chinelo, era de cortar os pulsos vendo uma Medeia brasileira, macumbeira, suburbana e arrenegada cantar daquele jeito. 

O musical começa com “Partido Alto” e de cara já mostra uma realidade carioca que mesmo sendo pernambucano doente devo confessar que é uma das formas mais universais de se mostrar o Brasil, essa promoção nacional que Chico Buarque e Paulo Pontes faz castiga na frase:

Brasileiro é batata, quando ler uma placa “não cuspa na grama”. Não engana, cospe na placa.


Gigolôs, comadres, pomba-giras, sambistas uma feixe de personagens de um mundo que apesar de ter sido criado há 34 anos é ainda actual e novato.





E como é bom ver gente sambar atrás de uma orquestra. Quando o pano desceu e voltou a subir já a plateia estava de pé. Não cheguei a contar mas creio que foram 5 minutos de ovação. Saí de lá com a mesma certeza de vinte poucos anos atrás quando na primeira vez que fui ao teatro e vi Os Saltimbancos. Eu soube naquele dia que meu negócio era teatro. Ao chegar em casa pedi a Deus pra ser merecedor de um dia poder dormir e acordar só pra isso. Isso que me bole por dentro, me sobe as faces e me faz corar, isso que não tem governo, nem juízo. 

domingo, 3 de maio de 2009

As bobagens que falamos

Faz já um ano que estamos por aqui.