quarta-feira, 6 de maio de 2009

Olha a veia que salta


Ontem fui a estreia em Lisboa de Gota D’agua do Chico. É difícil pensar em alguém substituir Bibi ferreira no papel de Joana e montar de forma tão boa ou parecida como a montagem de 1975 mas era Chico, em um texto que adoro de paixão. Dificilmente um espectáculo surtiu um efeito diferente em mim senão o de crítico afiado e ranziza. Ontem eu tive que engoli mais uma vez essa pretensão boba de quem muito fala e pouquíssimo faz. Essa é a montagem! Guardem o nome dessa Actriz: Izabella Bocalho. 



É de arrepiar a interpretação dessa menina, um monstro em cena, a voz dela retinia no CCB a cada nota que ela subia. Tirando a música “atrás da porta” que continua sendo Elis a melhor interprete, todas as outras ficam na minha mente como sendo as de Izabella a melhor versão. Acho que “bem-querer”, “flor da pele” e “gota d’agua” são as melhores, essa ultima deixa a versão da Bethania no chinelo, era de cortar os pulsos vendo uma Medeia brasileira, macumbeira, suburbana e arrenegada cantar daquele jeito. 

O musical começa com “Partido Alto” e de cara já mostra uma realidade carioca que mesmo sendo pernambucano doente devo confessar que é uma das formas mais universais de se mostrar o Brasil, essa promoção nacional que Chico Buarque e Paulo Pontes faz castiga na frase:

Brasileiro é batata, quando ler uma placa “não cuspa na grama”. Não engana, cospe na placa.


Gigolôs, comadres, pomba-giras, sambistas uma feixe de personagens de um mundo que apesar de ter sido criado há 34 anos é ainda actual e novato.





E como é bom ver gente sambar atrás de uma orquestra. Quando o pano desceu e voltou a subir já a plateia estava de pé. Não cheguei a contar mas creio que foram 5 minutos de ovação. Saí de lá com a mesma certeza de vinte poucos anos atrás quando na primeira vez que fui ao teatro e vi Os Saltimbancos. Eu soube naquele dia que meu negócio era teatro. Ao chegar em casa pedi a Deus pra ser merecedor de um dia poder dormir e acordar só pra isso. Isso que me bole por dentro, me sobe as faces e me faz corar, isso que não tem governo, nem juízo. 

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