quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um espectáculo que não diz ao que veio.


Hoje fui ao Politeama ver a versão do La Féria do "Piaf" de Pam Gems ...

Não entendo esse meio aqui em Portugal, ainda não vi um musical que me tocasse, é tudo comercial, feito para encher a sala, não para emocionar.


Na entrada a primeira coisa que me chocou foi ver o próprio Filipe La Féria atrás de um balcão a autografar programas do espectáculo e a vende-los a três euros como quem vende um cacho de bananas na feira do relógio, a gritar feito uma cigana rouca.


Lá dentro uma sala bem equipada, som, luz e uma beleza sem igual para quatrocentas cadeiras que parece um teatro de bolso feito para uma corte antiga.


De todos os musicais feitos por ele, esse é o melhorzinho. Sem muita pluma, sem bailarinas de perna de fora, nem sobe e desse casas, aparece escadas ou surgir do tecto paredes tão corriqueiras em suas obras. Um espectáculo simples, sem grandes efeitos ou emoção, tudo plástico. As pessoas em cena apenas cantam, ou dançam, não há sentimento em suas falas, parecem um bando de pessoas que adoram dançar e soltar a voz e usam os textos apenas para separar uma música e outra. Não passam verdade, nem sequer preocupam-se com isso.

O texto cospe os factos da vida da cantora como que um resumo de um jogo de futebol. As personagens são interpretadas como se fossem extraídas de uma revista, Toine sua melhor amiga parece uma peixeira, Marlene Dietrich um travesti cheio de botox na cara e muita laca na peruca. Marcelle o grande amor de Edith Piaf entra em cena e dez minutos depois morre, não mostra a importância que teve na vida dela é apenas uma das cuspidas que o texto escarra na cara de quem estiver na primeira fileira, Charles Aznavour entra na historia só para destruir a musica La Bohème, a primeira parte ele canta a cento e vinte por hora, o resto enrola a plateia no lá lá lá...


A plateia é um show a parte, aplaudem tudo de se movimente pra fora de cena, as senhoras conversam em voz alta como se tivessem a comentar um desfile de escola de samba e sem falar em carteiras de velcro que abrem-se a toda hora e mais palmas para quem volta a entrar ou sair novamente de cena. A protagonísta é feita por duas actrizes hoje vi a Sónia Lisboa que deve ser uma óptima actriz para musicais se bem encenada e se entender que precisa passar emoção para quem a ver.


Algumas coisas boas, umas marcações e soluções cénicas interessantes mas usadas em demasiado durante duas horas, uma coisa é você ficar encantado com o efeito de um canhão e a silhueta de uma personagem numa cortina de veludo vermelha durante uma cena e outra coisa é ela ser usada de dez em dez minutos.


Saí de lá meio triste e fiquei imaginando como os fãs do "pardal" não se sente ao ver a historia da Diva francesa ser transformada numa revista portuguesa, sem falar na própria que deve estar a se revirar no túmulo toda noite quando sobe o pano no Politeama.