segunda-feira, 25 de maio de 2009

Comédia da vida privada

Sexta-feira saio eu do trabalho e vou sozinho ao Tejo bar em Alfama a fim de pegar um texto de teatro com Mané do Café o dono do buteco que havia o encontrado um dia antes no cinema São Jorge. Gosto do clima do estabelecimento, grande parte dos artistas brasileiros aqui de Lisboa depois de tocarem e cantarem pelas rodas de choro, teatros e espaços da cidade migram para tomar a saideira e tocar umas quantas musicas pra quem quiser ouvir ou soltar a voz nas letras de Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Ary Barroso, Chico e tantos outros.

Depois de três ou quatro cervejas (ultimamente estou imune ao teor alcoólico dela) saio pra fumar um cigarro e na porta vejo um sujeito que fisicamente era meu número, Magro, alto, óculos, cara de bibliotecário, um nariz de deixar Maria Bethania sem fôlego, um charme interessante e um cheiro que me deixou com as antenas ligadas mas isso tudo no curto espaço de 5 segundos, o tempo de ascender o cigarro e baixar a cabeça.

Ao voltar para minha mesa percebi que alguém me olhava, cruzamos pela primeira vez o olhar, mais outro e outra cerveja, mais três cervejas e outros olhares, olhares seguidos de sorriso. Eu já desconcertado pego um livro para fingir que leio (Gota d’água) ao voltar a fecha-lo ele me pede o livro, depois devolve, eu no meu momento Amelie procuro um trecho da peça que se identifique com o momento, fui rápido e dei pra ele ler (isso num bar lotado com umas quatro mesas de distancia) sorriu cheio de malícia no fim da leitura, mais olhar e um músico no bandolim puxa “pela luz dos olhos teus” (tem até um vídeo no youtube, procurem a conta do Tejo bar, foi adicionado no sábado), cantamos quase toda a olhar um pro outro.

No balcão puxei conversa com a amiga e depois trocamos umas palavras. Eu por estar mais perto dos músicos, a amiga pede uma musica, depois o pergunto o que ele que ouvir: “O mundo é um Moinho” disse. Cantei como se tivesse em baixo de uma janela aquela hora mesmo da madrugada.

Me chamaram para mesa, mal sentei, começaram a cantar o tango que fecha a noite do bar. Embaraço, todo mundo começou a pagar a conta.

Eu cumprimento, digo que foi um prazer e vou pra casa, só com o nome, sem telefone e sem a certeza se voltarei a ver.

No sábado voltei lá na esperança que talvez tivesse pensado o mesmo, ledo engano. Ninguém apareceu e eu passei a noite olhado pra cada movimento da porta. Mais uma vez ouvi o tango pra fechar. 

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