terça-feira, 20 de janeiro de 2009

As flores de plástico não morrem.



Ela ligou-me três vezes seguidas no meio de uma reunião. A terceira eu achei que poderia ser algo muito importante, e era.
-Alô Jaime?!
-Oi, Valéria!
-Ai! Como é bom ouvir tua voz!
-Oxi menina! O que foi? Tá tudo bem contigo? 
Percebi que ela estava com a voz partida o nervosismo me deixa superpernambucano.
- Tá, tá... ai, Jaime como é bom ouvir tua voz!
- O que foi Valéria?! 
Eu já com o coração na mão achando que havia acontecido algo com  João Pedro o filho dela ou coisa parecida e ela com aquele sotaque mineiro:
- "Aquiam"! Sabe a Ção? A Braquinha?
-Sim, a rosadinha, fofinha? Sei!
-Ela "mêsss"! Me ligou porque recebeu uma sms dizendo que o actor Jaime tinha se suicidado. "Nossinhora" que até pra Ruth eu liguei pra tentar falar com o Nuno. "Nossinhora"! e "ocê num atendia eu "dizisperada". E ta tudo bem c'ocê?
-Tá tudo! inclusive tou mais vivo que nunca, trabalhando muito e precisando de você por perto.
-"Aquiam" Jaime, "Cê" num sabe o quanto "queu" gosto "d'ocê", viu menino? Nem eu sabia que te amava tanto. "Cê" num pensa em fazer besteira não viu?...
Só depois de ter desligado o telefone é que percebi a força que as palavras dela teve em meu coração. Fiquei feliz por saber que as pessoas sentem as mesmas coisas que eu sinto por elas e gratuitas. Quando somos adolescentes, sempre imaginamos como as pessoas reagiriam a nossa morte (pelo menos eu pensava muito nisso) hoje eu acabei a tarde com um sorriso incontrolável na cara e uma vontade enorme de atrasar por mais uns anos a ideia de morrer aos 36.



1 comentário:

Wellvis disse...

Eu ja tinha gostado do post..mas a foto final foi o tiro de misericórdia no meu coração, lindo.

Beijos negão.

P.S. Que bom que "ocê" tá bem vivo :)