domingo, 14 de fevereiro de 2010

Chico


Quando Luiz de Lima Navarro ligou para dar-me a notícia, aqui em Lisboa já eram 17 horas de um raro dia de sol nesse inverno tão rigoroso que tem feito esse último. Jamais pude imaginar que minha ligação com Chico fosse tão mais forte quanto imaginava nos tempos em que todas as minhas últimas noites no Brasil passei boa parte em sua casa entre conversas e receitas deliciosas, entre uma discussão sobre teatro ou em teorías sobres a música brasileira. Era bem mais que isso. No sétimo andar de um prédio numa avenida chamada Roma (uma das cidades que ele mais amou) recordei uma serie de momentos que vivi sentado nos bancos da Praça Theo Silva. Chico foi uma peça fundamental na construção da minha personalidade. Devo a ele quase todo o conhecimento musical que tenho, ele é responsável por uma parte significativa da minha sensibilidade cultural. Possuíamos muitas coisas em comum e uma das mais latentes era a admiração por Elis e foi dessa forma que amansei meu espírito, a ouvir todas as músicas que tantas vezes deixei de ouvir a voz da cantora e só conseguir ouvir a dele, aguda, alta e acompanhada de gestos e seguida por outras e outras tantas canções. Sei da calma e do sossego que ele tem agora, ele apenas merecia lugares onde a beleza do seu olhar pudesse ser absorvido pelas paisagens. Isso sei que deve ser o que estará a acontecer onde quer que ele esteja pois o mundo ontem amanheceu mais podre, morreu uma das pessoas mais extraordinária que já conheci um dia. Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude, tá em casa, guardado por Deus.

1 comentário:

Esquadros disse...

que homenagem mais linda!