Está cada vez mais evidente o ensurdecimento e a cegueira
humana. Foi-se o tempo em que era bonito ter um pensamento coletivo e não me
refiro a questão social e politica, já não sou tão inocente ao ponto de
acreditar nos três ou quatro gatos-pingados que acreditam que vão mudar esse
sistema. São milhares de anos de genuína ignorância, são séculos e séculos de
uma vivência boba e medíocre.
Porém falo de algo mais individual, apesar de ser um sentimento
generalizado, a nova onda de falsa aceitação, de respeito e não preconceito,
nunca se esteve tão longe da verdade. Mente-se, maquia-se as relações sociais
mas na verdade ninguém está interessado em ouvir, deglutir e cagar. Isso mesmo,
cagar em tudo, sem grandes floreios. Dão mais importância em dar opinião, por um
ponto final, numa historia que não estão escrevendo.
Cada um tem uma filosofia de vida, construída em cima de vivências próprias, infâncias coloridas ou a preto e branco, com a presença forçada de pais
sejam superprotetores sejam ausentes, ou ainda, de recortes de outras tantas filosofias
empurradas goela a baixo num sistema babaca de ensino. Cada um tem sua própria forma
de enxergar a mesma coisa, basta estarmos em lugares diferentes de uma mesma
sala que as flores que você avista no vaso, não serão as mesmas que eu vejo.
Ai como me incomoda as pessoas que levantam bandeiras, que
defendem formas de comportamento, que exigem linhas de conduta, que passam a
vida a tentar transformar as outras pessoas em cópias do modelo fracassado de
civilização de qual invariavelmente fazemos todos parte. Essas pessoas fingem
aceitar seu jeito de ser, fingem para tentar elas mesmas acreditarem que não
são preconceituosas e mais ainda achadoras de serem as portadoras da verdade do
mundo. Passarão a mão em minha cabeça, acenarão que “sim, está tudo bem, eu lhe
respeito apesar de não concordar”, até
eu escorregar na minha própria filosofia, e essa alma infeliz, cairá em cima de mim
com aquele texto chato cheio de clichés paternalistas. Minha vontade nessa hora
é mandar essa gente à puta que os pariu. Até porque eu também, ao criar esse
texto, tento fazer com que minha ideia seja comprada por quem a lê, e muitas
vezes dou lições de moral a quem acaba escorregando na própria filosofia. Eu
andei na mesma escola que todo mundo andou.
Na verdade eu acredito que ninguém tem o direito de impor
formas de estar e de agir a seu ninguém. Nem mesmo os pais, e sobretudo os
pais, não esqueçam da projeção que os velhos fazem nas crias. Ovaciono o pai
que conduz o filho por um caminho cheio de bifurcações e ao chegar nelas
mostra os dois lados e deixa o filho escolher sozinho. Amo os amigos que no
auge de um problema encharca o ombro de lágrimas alheias mas não abre a boca para
arrotar experiencias do que quer que seja. Votaria num político que fosse
franciscano mas dificilmente num cristão fervoroso. Me diria parte de um grupo social se o mesmo trouxesse nos ideais
uma forma menos idiota de passar a vida tentando fazer as pessoas girarem em
torno de mim, pois isso é o que todo mundo faz, e isso acaba ensurdecendo,
acaba cegando. Numa solidão esquizofrénica no meio de milhões de pessoas.
1 comentário:
É isso meu querido. Cada vez mais estamos nos revoltando pouco a pouco, nessa revolução silenciosa, e que, espero, faça o vulcão entrar em erupção.
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