segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Maria não vai com as outras


Está cada vez mais evidente o ensurdecimento e a cegueira humana. Foi-se o tempo em que era bonito ter um pensamento coletivo e não me refiro a questão social e politica, já não sou tão inocente ao ponto de acreditar nos três ou quatro gatos-pingados que acreditam que vão mudar esse sistema. São milhares de anos de genuína ignorância, são séculos e séculos de uma vivência boba e medíocre.
Porém falo de algo mais individual, apesar de ser um sentimento generalizado, a nova onda de falsa aceitação, de respeito e não preconceito, nunca se esteve tão longe da verdade. Mente-se, maquia-se as relações sociais mas na verdade ninguém está interessado em ouvir, deglutir e cagar. Isso mesmo, cagar em tudo, sem grandes floreios. Dão mais importância em dar opinião, por um ponto final, numa historia que não estão escrevendo.
Cada um tem uma filosofia de vida, construída em cima de vivências próprias, infâncias coloridas ou a preto e branco, com a presença forçada de pais sejam superprotetores sejam ausentes, ou ainda, de recortes de outras tantas filosofias empurradas goela a baixo num sistema babaca de ensino. Cada um tem sua própria forma de enxergar a mesma coisa, basta estarmos em lugares diferentes de uma mesma sala que as flores que você avista no vaso, não serão as mesmas que eu vejo.
Ai como me incomoda as pessoas que levantam bandeiras, que defendem formas de comportamento, que exigem linhas de conduta, que passam a vida a tentar transformar as outras pessoas em cópias do modelo fracassado de civilização de qual invariavelmente fazemos todos parte. Essas pessoas fingem aceitar seu jeito de ser, fingem para tentar elas mesmas acreditarem que não são preconceituosas e mais ainda achadoras de serem as portadoras da verdade do mundo. Passarão a mão em minha cabeça, acenarão que “sim, está tudo bem, eu lhe respeito apesar de não concordar”,  até eu escorregar na minha própria filosofia, e essa alma infeliz, cairá em cima de mim com aquele texto chato cheio de clichés paternalistas. Minha vontade nessa hora é mandar essa gente à puta que os pariu. Até porque eu também, ao criar esse texto, tento fazer com que minha ideia seja comprada por quem a lê, e muitas vezes dou lições de moral a quem acaba escorregando na própria filosofia. Eu andei na mesma escola que todo mundo andou.
Na verdade eu acredito que ninguém tem o direito de impor formas de estar e de agir a seu ninguém. Nem mesmo os pais, e sobretudo os pais, não esqueçam da projeção que os velhos fazem nas crias. Ovaciono o pai que conduz o filho por um caminho cheio de bifurcações e ao chegar nelas mostra os dois lados e deixa o filho escolher sozinho. Amo os amigos que no auge de um problema encharca o ombro de lágrimas alheias mas não abre a boca para arrotar experiencias do que quer que seja. Votaria num político que fosse franciscano mas dificilmente num cristão fervoroso. Me diria parte de um grupo social se o mesmo trouxesse nos ideais uma forma menos idiota de passar a vida tentando fazer as pessoas girarem em torno de mim, pois isso é o que todo mundo faz, e isso acaba ensurdecendo, acaba cegando. Numa solidão esquizofrénica no meio de milhões de pessoas.

1 comentário:

Wellvis disse...

É isso meu querido. Cada vez mais estamos nos revoltando pouco a pouco, nessa revolução silenciosa, e que, espero, faça o vulcão entrar em erupção.